O Livro do Desassossego. Composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda livros na cidade de Lisboa. Microsoft Money Windows 7. Prefcio. H em Lisboa um pequeno nmero de restaurantes ou casas de pasto em que, sobre uma loja com feitio de taberna decente, se ergue uma sobreloja com uma feio pesada e caseira de restaurante de vila sem comboios. Nessas sobrelojas, salvo ao domingo pouco frequentadas, frequente encontrarem se tipos curiosos, caras sem interesse, uma srie de apartes na vida. O desejo de sossego e a convenincia de preos levaram me, em um perodo da minha vida, a ser frequente em uma sobreloja dessas. Sucedia que, quando calhava jantar pelas sete horas, quase sempre encontrava um indivduo cujo aspecto, no me interessando a princpio, pouco a pouco passou a interessar me. Era um homem que aparentava trinta anos, magro, mais alto que baixo, curvado exageradamente quando sentado, mas menos quando de p, vestido com um certo desleixo no inteiramente desleixado. Na face plida e sem interesse de feies um ar de sofrimento no acrescentava interesse, e era difcil definir que espcie de sofrimento esse ar indicava parecia indicar vrios, privaes, angstias, e aquele sofrimento que nasce da indiferena que provm de ter sofrido muito. Jantava sempre pouco, e acabava fumando tabaco de ona. Reparava extraordinariamente para as pessoas que estavam, no suspeitosamente, mas com um interesse especial mas no as observava como que perscrutando as, mas como que interessando se por elas sem querer fixar lhes as feies ou detalhar lhes as manifestaes de feitio. Foi esse trao curioso que primeiro me deu interesse por ele. Passei a v lo melhor. Verifiquei que um certo ar de inteligncia animava de certo modo incerto as suas feies. Mas o abatimento, a estagnao da angstia fria, cobria to regularmente o seu aspecto que era difcil descortinar outro trao alm desse. Soube incidentalmente, por um criado do restaurante, que era empregado de comrcio, numa casa ali perto. Old_drunkard_Glyptothek_Munich_437_n1.jpg/640px-Old_drunkard_Glyptothek_Munich_437_n1.jpg' alt='A Vida Quotidiana Na Roma Antiga Pdf' title='A Vida Quotidiana Na Roma Antiga Pdf' />Um dia houve um acontecimento na rua, por baixo das janelas uma cena de pugilato entre dois indivduos. Os que estavam na sobreloja correram s janelas, e eu tambm, e tambm o indivduo de quem falo. Troquei com ele uma frase casual, e ele respondeu no mesmo tom. A sua voz era baa e trmula, como a das criaturas que no esperam nada, porque perfeitamente intil espe A quarta edio do Seminrio Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo de Lngua Portuguesa foca sua temtica na importncia da. A nova vida do velho centro nas cidades portuguesas e brasileiras Organizao Jos Alberto Rio Fernandes e Maria Encarnao Beltro Sposito Introduo. Desde a origem da humanidade, j na poca das cavernas, o homem sempre se utilizou de pinturas, desenhos e esculturas para dar a entender ou explicar suas ideias. A Igreja Catlica, chamada tambm de Igreja Catlica Romana e Igreja Catlica Apostlica Romana, a Igreja Crist fundada por Jesus Cristo com aproximadamente. Mas era porventura absurdo dar esse relevo ao meu colega vespertino de restaurante. No sei porqu, passamos a cumprimentarmo nos desde esse dia. Um dia qualquer, que nos aproximara talvez a circunstncia absurda de coincidir virmos ambos jantar s nove e meia, entramos em uma conversa casual. Microsoft Wmf 11 Redist on this page. A certa altura ele perguntou me se eu escrevia. Respondi que sim. Falei lhe da revista Orpheu, que havia pouco aparecera. Ele elogiou a, elogiou a bastante, e eu ento pasmei deveras. Permiti me observar lhe que estranhava, porque a arte dos que escrevem em Orpheu si ser para poucos. Ele disse me que talvez fosse dos poucos. De resto, acrescentou, essa arte no lhe trouxera propriamente novidade e timidamente observou que, no tendo para onde ir nem que fazer, nem amigos que visitasse, nem interesse em ler livros, soa gastar as suas noites, no seu quarto alugado, escrevendo tambm. Ele mobilara impossvel que no fosse custa de algumas coisas essenciais com um certo e aproximado luxo os seus dois quartos. Cuidara especialmente das cadeiras de braos, fundas, moles, dos reposteiros e dos tapetes. Dizia ele que assim se criara um interior para manter a dignidade do tdio. No quarto moderna o tdio torna se desconforto, mgoa fsica. Composto por Bernardo Soares, ajudante de guardalivros na cidade de Lisboa. Prefcio. H em Lisboa um pequeno nmero de restaurantes ou casas de pasto em que. A Vida Quotidiana Na Roma Antiga Pdf' title='A Vida Quotidiana Na Roma Antiga Pdf' />Nada o obrigara nunca a fazer nada. Em criana passara isoladamente. Aconteceu que nunca passou por nenhum agrupamento. Nunca frequentara um curso. No pertencera nunca a uma multido. Dera se com ele o curioso fenmeno que com tantos quem sabe, vendo bem, se com todosNunca teve de se defrontar com as exigncias do estado ou da sociedade. Nada o aproximou nunca nem de amigos nem de amantes. Fui o nico que, de alguma maneira, estive na intimidade dele. Mas apesar de ter vivido sempre com uma falsa personalidade sua, e de suspeitar que nunca ele me teve realmente por amigo percebi sempre que ele algum havia de chamar a si para lhe deixar o livro que deixou. Agrada me pensar que, ainda que ao princpio isto me doesse, quando o notei, por fim vendo tudo atravs do nico critrio digno de um psiclogo, fiquei do mesmo modo amigo dele e dedicado ao fim para que ele me aproximou de si a publicao deste seu livro. At nisto curioso descobri lo as circunstncias, pondo ante ele quem, do meu carter, lhe pudesse servir, lhe foram favorveis. Nestas impresses sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem fatos, a minha histria sem vida. So as minhas Confisses, e, se nelas nada digo, que nada tenho que dizer. Autobiografia sem fatos1Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crena em Deus, pela mesma razo que os seus maiores a haviam tido sem saber porqu. E ento, porque o esprito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e no porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedneo de Deus. Perteno, porm, quela espcie de homens que esto sempre na margem daquilo a que pertencem, nem veem s a multido de que so, seno tambm os grandes espaos que h ao lado. Por isso nem abandonei Deus to amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvvel, poderia ser, podendo pois dever ser adorado mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biolgica, e no significando mais que a espcie animal humana, no era mais digna de adorao do que qualquer outra espcie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu me sempre uma revivescncia dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeas de animais. Assim, no sabendo crer em Deus, e no podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distncia de tudo a que comummente se chama a Decadncia. A Decadncia a perda total da inconscincia porque a inconscincia o fundamento da vida. O corao, se pudesse pensar, pararia. A quem, como eu, assim, vivendo no sabe ter vida, que resta seno, como a meus poucos pares, a renncia por modo e a contemplao por destinoNo sabendo o que a vida religiosa, nem podendo sab lo, porque se no tem f com a razo no podendo ter f na abstrao do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante ns, ficava nos, como motivo de ter alma, a contemplao esttica da vida. E, assim, alheios solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo nos futilmente sensao sem propsito, cultivada num epicurismo sutilizado, como convm aos nossos nervos cerebrais. Retendo, da cincia, somente aquele seu preceito central, de que tudo sujeito s leis fatais, contra as quais se no reage independentemente, porque reagir elas terem feito que reagssemos e verificando como esse preceito se ajusta ao outro, mais antigo, da divina fatalidade das coisas, abdicamos do esforo como os dbeis do entretenimento dos atletas, e curvamo nos sobre o livro das sensaes com um grande escrpulo de erudio sentida.